Significando o medo,por onde começar
Vamos falar de forma direta: quando alguém está medo, geralmente sente que o corpo e a mente não concordam sobre o que é seguro. A cabeça pensa “posso seguir”, o corpo responde “melhor ficar parado”. Isso acontece porque uma parte antiga do cérebro,da sua mente – aquela que aprendeu a sobreviver antes de aprender a explicar – guarda memórias, um manual de respostas rápidas.
Esse "manual" foi escrito nos primeiros anos de vida, nas relações que ensinaram o que é afeto, o que é limite, o que é conflito e o que é cuidado. Se nesse período a segurança foi instável, a mente fica conservadora, como se dissesse:“evite riscos, desconfie, proteja-se reagindo muito ou se calando”. Não é preguiça, não é fraqueza, é um sistema de proteção. Só que, mais tarde, a vida muda e se não mudamos com ela, nos faz repetir de novo e de novo. Aí surgem sintomas como medo do novo, perfeccionismo que paralisa, autocrítica severa, dificuldade de dizer não, impulsos de controle e até o afastamento de oportunidades boas.
O bloqueio pode ser uma forma de tentar não sentir dor de novo. Para uma cura interna sobre esses bloqueios e truamas, existem dois movimentos simples e eficazes. Primeiro, dar um nome claro ao que está acontecendo, ao que se está sentindo: “estou agino assim, porque aprendi assim”. Nomear abre espaço entre você e o padrão; cria um pequeno intervalo onde a escolha pode nascer."Hoje eu escolho ser diferente."
Segundo, reduzir a exigência de perfeição: objetivo agora não é “nunca mais errar”, é “perceber mais cedo, reparar mais rápido e retomar o caminho”. Quando você transforma a meta em presença – e não em impecabilidade – o corpo relaxa, porque sente que não será punido por cada passo torto, e sim acolhido com afeto.
Falamos aqui de aprender um novo ritmo: observar sem se punir, ajustar sem se humilhar, treinar sem se cobrar como se fosse um teste final. O bloqueio diminui quando o organismo sente que tem rotas de saída. Por isso, pequenas experiências de sucesso contam muito: um pedido de desculpa honesto, um limite dito com calma, uma pausa antes de reagir. Cada microvitória ensina ao corpo que o mundo atual pode ser mais seguro do que o mundo que o manual antigo imagina.
A vida é uma estrada cheia de curvas. Às vezes, algumas experiências antigas fazem você hesitar ou ficar parado. Você não apaga o passado, mas pode aprender a dirigir com mais consciência, contornar obstáculos e aproveitar a paisagem.
O bloqueio surge quando você trava diante de uma curva. O crescimento acontece quando você reconhece os padrões, pratica novas escolhas e segue em frente, um passo de cada vez. Em uma linguagem simples, começar é isso: notar, nomear, reparar e repetir. Simples não quer dizer fácil, mas é viável para qualquer idade.